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Inovação, Tendências e Gestão

Quando liderei uma equipe pela primeira vez, posso dizer que estava mais perdido que cego em tiroteio. Isso mesmo, não sabia ao certo o que fazer, estava inseguro e completamente perdido em relação ao que deveria ser feito ou não.

Eu estava em uma indústria que eu não conhecia, minha experiência no ramo fármaco era ZERO e nunca tinha liderado uma fábrica inteira com representantes e distribuidores espalhados em todo o Brasil.

Pior, nunca havia trabalhado em uma empresa familiar, com todas as suas mazelas, nem tanto havia vivenciado um clima de disputa, não só entre os diretores como em toda a linha de produção e vendas. Mentor? Nem ao menos sabia o que era isso, muito menos tinha um network que me possibilitasse recorrer a alguma pessoa em que confiava e admirava. O que fiz então? Procurei seguir meus instintos e isso me conduziu a um grande desafio e aprendizado.

1. Preciso ter uma ideia de onde quero chegar.

Por mais que tenha me esforçado, não fazia a menor ideia de onde queria chegar, em parte pela inexperiência, em parte por fazer exercícios de adivinhação, e isso traz uma insegurança. Nunca me esqueço de um amigo que me viu fazendo projeções e cálculos e me disse: "Sabe o que gosto em calculadoras? Tudo o que você colocar nela, ela aceita, e mais, vai sempre dizer que está certo" Depois disso resolvi abandonar as projeções e fui perguntar para quem trabalhava na empresa o que poderia ser feito. Com uma boa dose de erros e acertos fizemos tudo que podia e mais um pouco. As pessoas, pouco a pouco foram aumentando suas projeções e produzimos e vendemos como ninguém! LIÇÃO: A resposta está dentro da empresa, só precisa perguntar e fazer uma boa avaliação, passo a passo para eliminar os excessos de confiança e falta dela.

2. Me comunicar eficientemente.

Pensei que criar murais, mandar mensagens de forma clara e transparente, instalar caixinha de sugestões iria funcionar, estava errado. A comunicação continuava falha e sem feedback para me orientar se estava agindo certo ou errado até que um funcionário ouvindo minhas queixas me aconselhou: "Por que você não vai no final do turno tomar um café com o pessoal no bar da esquina? A gente sempre fala sobre trabalho nesta roda de conversa" Lá fui eu, e para minha surpresa fiquei sabendo mais coisas em uma roda de conversa do que meses de comunicação one-way. LIÇÃO: A partir daquele dia não só frequentava as rodas de conversa com certa regularidade como passei a sentar em diversas mesas diferentes no café da manhã, todos os dias às 5:00h quando iniciava os turnos.

3. Preciso tratar as pessoas como gostaria de ser tratado.

Comecei a tratar as pessoas de forma igual, com cordialidade, simpatia e confiança, estava novamente errado, em parte! Me peguei lamentando comigo mesmo várias vezes quanto ao ser humano pedir uma coisa e fazer outra. Um dia, comentando que me sentia frustrado por não estar obtendo sucesso um faxineiro da empresa comentou: "O Sr. precisa entender que nem todos são iguais, tem gente boa e gente ruim. Os bons se calam quando enxergam você tratando bem quem deveria ir embora" Fiquei pasmo, sem dormir aquela noite! No dia seguinte fui investigar e procurei o mesmo faxineiro: "Por que você me falou aquilo ontem? Ele respondeu: Tem gente muito boa e honesta aqui, a maioria, mas tem algumas frutas podres no pote. Tem gente roubando, tem gente que trabalha sério e sabe disso e ficam desanimados, com medo de perder o emprego se falarem alguma coisa. Se o Sr. procurar no lugar certo vai achar!"

Lembro que fiquei furioso, achei fofoca, besteira. Após alguns dias fiquei ruminando aquilo até que decidi investigar. A primeira coisa que fiz foi me questionar como trabalhávamos muito e as receitas não acompanhavam, porquê os clientes bons haviam diminuído as compras. Passei uma manhã ligando para os principais clientes perguntando se tinham determinado produto em estoque, como cliente mesmo, não como fornecedor e acabei descobrindo que tinham o produto. Ou não vendia ou alguma coisa estava errada. Resolvi auditorar as NF's e nada batia com nada. Um mês depois chamei a polícia, mostrei as provas, mandei o Gerente de Vendas, Expedição e um supervisor de produção embora algemados. Eles desviavam produtos e revendiam para os melhores clientes que achavam estar comprando de um distribuidor com 30% de desconto. A partir daquele dia ganhei a confiança e respeito de todos. LIÇÃO: Tratar bem as pessoas não basta, precisa saber quem tratar bem, separar o joio do trigo. Toda a empresa tem suas quotas de pessoas boas e ruins, não necessariamente roubam ou praticam atos ilícitos, às vezes um simples mal educado pode destruir a moral de todos, se tratado da mesma forma que os demais. Toda a empresa tem uma parcela de pessoas que precisam ser mandadas embora imediatamente até que todos saibam a cultura da empresa de verdade.

4. Não posso fazer o trabalho por eles, mas ajudá-los a fazer.

Quase 100% de acerto até que descobri que deixar as pessoas fazerem seu trabalho apenas ajudando não funciona. LIÇÃO: Você precisa saber quem precisa ser ajudado e como deve ser ajudado. Simplesmente crer que todos sabem o que fazer é um erro. Para uns terá de ensinar, treinar, orientar, para outros terá de fazer pelo exemplo, terá que substituir alguém para que as coisas funcionem, e acima de tudo, precisa criar sucessores para que seus esforços se multipliquem.

5. Preciso ser tolerante com as pessoas, cada um tem seu tempo.

Essa é uma verdade, mas às vezes haja tolerância. Em muito pouco tempo descobri que confundimos tolerância com subserviência. Ser tolerante muitas vezes acha a barreira da acomodação e quando você pensa que está sendo tolerante na verdade está sendo um péssimo educador. LIÇÃO: Ser tolerante não significa que tenha de aceitar tudo no prazo que as pessoas lhe impõem, nem no prazo que você impõem às pessoas. Ser tolerante é negociar estes prazos e responsabilidades em comum acordo e dar LIBERDADE COM RESPONSABILIDADE.

6. Não tenho verba para premiações portanto vou reconhecer as pessoas de forma honesta, inspiradora e constante.

Nem todo mundo quer prêmio, nem todo mundo quer tapinha nas costas, por mais bem intencionado que você seja sempre esteja preparado para diversidade, essa é uma máxima dentro de qualquer empresa. A produção estava trabalhando 3 turnos para atender todos os pedidos, no entanto, por mais que eu me esforçasse em reconhecer, inspirar e ser honesto, o que os funcionários queriam mesmo é tempo com suas famílias. Não era dinheiro e reconhecimento verbal, eram horas de folga e tempo para cuidar de suas vidas. LIÇÃO: Ao reconhecer pessoas e grupos, veja o que eles desejam e precisam e não o que você acha ser correto e oportuno.

7. Tenho de ser transparente e não ocultar informações, as pessoas tem o direito de saber o que está acontecendo e fazer suas escolhas.

Estávamos todos nos matando de trabalhar e ao mesmo tempo muito satisfeitos e realizados, mas a empresa estava se reerguendo e até que fossem resolvidos todos os problemas de caixa, muito pouco se podia fazer à respeito de salários até que vi o gerente financeiro entregando um bolo de dinheiro vivo para um dos donos da empresa. Na hora perguntei o que era aquilo porque sabia que ele estava saindo de viagem. Sem jeito ele me confessou que ele estava indo viajar com a esposa e gostava de ir ao cassino. Ok a empresa é dele e tem direito de viajar, mas usar dinheiro suado de gente que está dando duro para fazer as coisas acontecerem com jogo também é demais. Na hora fui a sua sala e pedi demissão me referindo ao que acabara de acontecer. LIÇÃO: Não adianta você ser transparente com sua equipe, toda a organização precisa ser transparente e verdadeira, do faxineiro ao presidente.

8. Se preciso das pessoas, o crédito por tudo que vier à acontecer será deles e não meu.

Sempre fui desta vertente até que descobri que meu ego me enganava. Ao passo que reconhecia minha equipe, os loros e elogios da presidência eram para meus resultados. Um dia sentando naquele bar me vi falando do quanto o presidente estava feliz com nossos resultados e blá, blá, blá, até que um dos parceiros na mesa comentou: "E por que ele nunca fala isso diretamente para nós?" Naquele momento me senti numa encruzilhada e me vendo como um profissional que falava muito e fazia pouco, por melhor que todos estivessem desde que entrei. LIÇÃO: Se o presidente está feliz, faça com que ele diga isso diretamente para toda a organização, quando você não faz isso, não passa de um garoto de recado, sem credibilidade e de ego inchado pelos elogios que deveriam ser endereçados a quem entrega o trabalho. A equipe!

9. Se quiser, de verdade, saber se as coisas estão acontecendo ou o que está acontecendo, preciso ficar o mínimo de tempo em minha mesa e o máximo na mesa deles.

Durante um bom tempo pratiquei isso à risca, o problema é que não estava funcionando 100%. Ficava curioso pois achava que estar ao lado da equipe o tempo todo trazia segurança e apoio. LIÇÃO: As pessoas adoram ver que você participa, mas a questão é o como. Estar rodando o tempo todo é muito benéfico, você vê coisas que normalmente não veria de sua mesa, por outro lado se feito em excesso traz insegurança para a equipe e pode soar como falta de autonomia e desconfiança. Equilibre as coisas, participe, mas tome o cuidado para não parecer que está na verdade fiscalizando. Ninguém gosta de ter alguém o tempo inteiro vendo o que está fazendo, seja pelas razões certas ou erradas.

10. Preciso ouvir muito, equipe, clientes e meus instintos, mas muito mesmo, sem julgamentos, apenas ouvir para depois pensar o que dever ser feito.

Ouvir é uma das coisas mais importantes para um gestor e líder até que fui questionado sobre isso. Um dos supervisores de produção constantemente me falava sobre várias coisas relacionadas ao seu trabalho de produção dos medicamentos até a rotulagem. Eu então, ouvia os clientes, outros departamentos e buscava pensar sobre o que deveria ser feito. É bem verdade que esse é mesmo o processo, mas por que ele estava tão insatisfeito comigo, afinal estava ouvindo e levando adiante suas sugestões e indagações até que resolvi perguntar e a resposta foi: "Realmente você ouve as pessoas e nós lhe admiramos muito por isso, no entanto, de que adianta ouvir se demora para fazer?" LIÇÃO: Se você escuta as pessoas e incentiva elas a falarem, tenha em mente que deve agir rápido com respostas e ações proativas pois com certeza eles estarão esperando. De nada adianta ouvir se as pessoas acharem que estão falando com o além ou com uma porta, se for para ouvir, carregue junto o verbo agir.

Espero que sirva para você tanto quanto tem servido para mim desde o princípio.

Escrito por: Ricardo Abiz - CEO - Sppock Innovation Ecosystem